Arte, Cultura e Filosofia

“Não acredite em algo simplesmente porque ouviu. Não acredite em algo simplesmente porque todos falam a respeito. Não acredite em algo simplesmente porque está escrito em seus livros religiosos. Não acredite em algo só porque seus professores e mestres dizem que é verdade. Não acredite em tradições só porque foram passadas de geração em geração. Mas depois de muita análise e observação, se você vê que algo concorda com a razão, e que conduz ao bem e benefício de todos, aceite-o e viva-o.” (Sidarta Gautama, o Buda)

A mensagem é sempre examinar e ver por si mesmo. Quando você vir por si mesmo o que é verdadeiro — e esse é realmente o único modo pelo qual você pode conhecer genuinamente qualquer coisa — quando isso acontecer, aceite—o. Até aí, apenas deixe de lado o julgamento e a crítica.


"Se um cego guiar outro cego, cairão ambos no barranco."

sábado, 22 de maio de 2010

O AMOR E SEUS CONTRATOS

Tanto nas juras mais vivas
como nos beijos mais longos
em que perduram salivas
de outras paixões ainda ativas,
sopro de angolas e congos,
eu sinto a turva incerteza
(ai, ouro de tredas lavras)
da enovelada surpresa
que põe tanto de estranheza
nos contratos que tu lavras.

Por mais que no teu falar
brilhe a promessa incessante
de um afeto a perdurar
até o mundo acabar
e mesmo depois - diamante
de mil prismas incendidos,
amargam-me o pensamento
de serem pactos fingidos
e nos seus subentendidos
não vi, Amor, valimento.

Experiência de escrituras,
eu tenho. De que me serve?
após sofridas leituras
de ementas e de rasuras,
no peito a dúvida ferve,
se nos mais doutos cartórios
de Londres, Londrina, Lavras
para assuntos amatórios,
teus itens são ilusórios,
só palavras e palavras.

As nulidades tamanhas
que te invalidam o trato
não sei se provêm de manhas
ou de vistas mais estranhas.
serão talvez teu retrato
gravado em vento ou em sonho
como aéreo documento
que nunca mais recomponho.
são todas – digo tristonho –
feitas de sonho e de vento.

(Carlos Drummond de Andrade)

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