Valor, contexto e arte.

Imagem: Alessandra Borges, Queimada dos Britos/MA- Brasil

Uma vez eu estava conversando com o meu pai e ele falou:
“Tem gente que é tão pobre, mas tão pobre que só tem dinheiro.”
Fiquei pensando sobre esta frase...
Você já conheceu alguém assim? Tão pobre, mas tão pobre que só tinha dinheiro?

Pedro Kupfer, professor de yoga, uma vez escreveu que "não é através da satisfação dos desejos que nos tornamos mais felizes, mas pela constatação e a qualidade de ver nossos eventuais objetos de desejo com objetividade, sem projetar neles valores subjetivos. Assim, podemos enxergar objetivamente o dinheiro como sendo apenas dinheiro, e não como uma fonte de felicidade, um relacionamento como um relacionamento, e não como a solução final contra o nosso medo da solidão,etc."
Certa vez li um artigo na revista Vida Simples que falava justamente sobre isto, e me fez parar para refletir.... Nunca tinha pensado desta forma: “Luxo é tudo aquilo que é raro, escasso, exclusivo, ou seja, tudo o que não é comum nem usual – mas agora, não necessariamente material.”
Vivemos num mundo em que é rico quem se veste com roupa de grife, tem carro do último modelo, mansões e jóias. Mas descobri que o verdadeiro luxo é algo que vem sem etiqueta com seu preço. O verdadeiro luxo acaba sendo justamente aquilo que ninguém pode vender.
Acho que, no fundo, as pessoas até sentem isto, mesmo que inconscientemente, que o que lhe dá prazer mesmo, alegria e realização vai muito além daquilo que a sociedade considera como fonte de felicidade. O verdadeiro luxo não distingue classes sociais.
De certa forma sou uma otimista. Gosto de pensar que as pessoas estão recuperando o discernimento entre o bem e o mal, o real do irreal, o eterno do ilusório. Buscando ter uma vida simples (e descomplicada), porém com uma mente e pensamentos elevados. Saindo do ter para o ser, da aparência para a essência. Não se preocupando tanto em ostentar para impressionar os outros e sim, realizando coisas para impressionar a si mesmo.
Afinal, o que é luxo para você? O que faz bem para a sua alma? (E isto também é relativo, o que pode ser luxo para um pode não ser para outro.)
Para mim, Luxo é cultura, arte e filosofia. É poder me alimentar somente de alimentos frescos, orgânicos, produzidos de forma que respeite a natureza e preparados por alguém especial. Luxo para mim é poder tirar uma soneca depois do almoço, é poder tirar o dia de folga quando tudo o que eu queria é ficar o dia todo em casa de pijama, é sentar no almoço com toda a família reunida, ir no cinema, fogão à lenha, lareira, comidinhas da minha vó. Coisas que têm um algo valor emocional e que é raro ou especial. Tudo o que é difícil de realizar com a correria do dia a dia.
Como disse Leonardo da Vinci: “Simplicidade é o máximo da sofisticação.” Ou como sempre diz a minha mãe: “Capricho não é luxo.”
Será que a pessoa rica de verdade é somente aquela em que mora em um condomínio fechado rodeado de seguranças, câmeras, alarmes, grades, carros blindados? Ou será que pode ser também aquela em que mora numa casa aconchegante, com uma vista deslumbrante e uma horta no quintal? Quantos artistas, poetas, filósofos tiveram uma vida rica em criatividade e liberdade porém morreram sem um tostão no bolso?
Vale a pena nos perguntar se as nossas opções estão nos gerando realizações. Às vezes a jóia mais preciosa não está disponível em uma joalheria. O tempo, por exemplo. Às vezes o nosso bem mais precioso é o nosso próprio tempo.
Fica, então, este questionamento: “O que é que tem real valor para você?"