
De certa forma, ao fazer um comentário de alguém, estamos tentando entender a essência do ser humano, e, portanto fazendo um exercício de autoconhecimento. Porém, comentar sobre a vida de alguém é uma coisa, e emitir juízo de valor sobre a mesma é outra. E a fofoca pode sim ser destrutiva. O psiquiatra Ângelo Gaiarsa diz que apenas 20% das informações trocadas entre as pessoas em qualquer ambiente, têm alguma utilidade. O resto é futilidade, é falar por falar.

Há os muito fofoqueiros e os fofoqueiros circunstanciais. Há os que usam a fofoca como maledicência, prejudicando e atingindo as pessoas; e há os que se divertem com fofocas inocentes. Mas uma coisa é real: todos fazem fofoca, é da natureza humana.
Presente ao longo de toda a História, tal ato é freqüentemente ligado à imagem das mulheres. Porém, engana-se quem pensa que fofoca é coisa de mulher: ambos fofocam. Pode até variar de foco ou de intenção, mas ninguém se escapa. O Centro de pesquisas de Londres, a Social Issues Research Centre, publicou que estatisticamente os homens são mais fofoqueiros. O que muda, entre a fofoca masculina e femina, é o teor da conversa: geralmente os homens fofocam sobre o ambiente de trabalho, gafes de colegas e principalmente sobre mulheres. Também vale ressaltar as razões que levam a fofoca: as mulheres, em geral, é uma maneira de passar o tempo enquanto para os homens pode servir, além de pura informação, como meio de auto-afirmação perante o resto dos amigos e colegas (quando este, por exemplo, gaba-se de ter saido com uma bela mulher).

Você consegue guardar segredo?
O educador e escritor Eugênio Mussak diz: “Uma fofoca é como o vento. Passa, mas vai deixar alguma conseqüência. Se for apenas um ventinho, a conseqüência nem será sentida, mas se for um vendaval, pode deixar um rastro de destruição.”
Segundo a professora de meditação Sally Kempton, uma maneira de saber se está no reino da fofoca ruim ou é compulsivo é pelo sabor que deixa para trás. E ela complementa: o bom fofoqueiro deixa um sabor amigável, não ficará com sentimentos de inadequação, raiva ou inveja. Além disso, é preciso prestar atenção o quão profundamente as palavras de outras pessoas podem distorcer nossas opiniões e até nossos sentimentos em relação ao outro. E quando falamos dos outros, fica até difícil para os outros confiarem em nós. Como diz um provérbio espanhol: “Aquele que fofoca com você irá fofocar sobre você também”.

Por outro lado, falar dos outros também pode ser uma forma de evitar olhar para algo difícil em si mesmo. Tem um ditado que diz: “Quando Pedro fala de João, sabe-se muito mais sobre Pedro do que sobre João”.
O primeiro passo para evitar falar sobre as outras pessoas é observar a própria tendência à fofoca, para depois controlá-la. Quando falamos de alguém, e principalmente quando falamos mal de alguém, criamos uma aura de negatividade e geramos uma energia que pode contaminar todo o ambiente. É só observar como você se sente quando está falando de alguém. É como se tivesse perdendo tempo e energia. Isto sem contar que quando se fala mal de uma pessoa é possível que se sinta culpado ao encontrá-la.

Um dos fenômenos sociais mais populares há séculos, a fofoca já interferiu nos rumos da história.

Escultura retratando duas senhoras fofocando na parte velha da cidade de Sindelfingen, na Alemanha. Historicamente, a fofoca está ligada à imagem das mulheres e das pequenas cidades, como é o caso de Sindelfingen.
O controle das palavras
Segundo Sally, devemos considerar que um dos maiores frutos da nossa prática é permanecer em silêncio. Mira Alfassa, A Mãe (1878 – 1973) nos ensina: “A menos que você seja responsável por certas pessoas, seja como guardião, instrutor ou chefe de serviço, você não tem nada a ver com o que elas fazem ou não fazem, e é preciso abster-se de falar deles, de dar sua opinião sobre eles e sobre o que fazem, ou mesmo de repetir o que os outros podem pensar e dizer deles.”
E ela vai ainda mais longe quando diz: “em todos os casos, e de uma maneira geral, quanto menos se fala dos outros, mesmo se for para elogiá-los, melhor. Se já é tão difícil saber exatamente o que acontece em si mesmo, como saber, então, com certeza, o que acontece nos outros? Abstenha-se, portanto, totalmente de pronunciar sobre uma pessoa um desses julgamentos definitivos que só podem ser uma tolice, se não uma maldade. Por isso, aconselho todos a ficarem em paz e a absterem-se de todo julgamento. Isso é o mais seguro.”
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