Arte, Cultura e Filosofia

“Não acredite em algo simplesmente porque ouviu. Não acredite em algo simplesmente porque todos falam a respeito. Não acredite em algo simplesmente porque está escrito em seus livros religiosos. Não acredite em algo só porque seus professores e mestres dizem que é verdade. Não acredite em tradições só porque foram passadas de geração em geração. Mas depois de muita análise e observação, se você vê que algo concorda com a razão, e que conduz ao bem e benefício de todos, aceite-o e viva-o.” (Sidarta Gautama, o Buda)

A mensagem é sempre examinar e ver por si mesmo. Quando você vir por si mesmo o que é verdadeiro — e esse é realmente o único modo pelo qual você pode conhecer genuinamente qualquer coisa — quando isso acontecer, aceite—o. Até aí, apenas deixe de lado o julgamento e a crítica.


"Se um cego guiar outro cego, cairão ambos no barranco."

domingo, 12 de setembro de 2010

VOCÊ NÃO SABE DA MAIOR!

Resolução de Ano Novo é um compromisso que uma pessoa faz para um projeto ou a reforma de um hábito. O nome vem do fato de que esses compromissos normalmente entram em vigor no Dia de Ano Novo. A minha deste ano foi: não falar de ninguém. Eu sabia que não seria tarefa fácil, afinal, temos a necessidade de comentar com senso crítico a vida dos outros; ou em outras palavras, fazer fofoca.

De certa forma, ao fazer um comentário de alguém, estamos tentando entender a essência do ser humano, e, portanto fazendo um exercício de autoconhecimento. Porém, comentar sobre a vida de alguém é uma coisa, e emitir juízo de valor sobre a mesma é outra. E a fofoca pode sim ser destrutiva. O psiquiatra Ângelo Gaiarsa diz que apenas 20% das informações trocadas entre as pessoas em qualquer ambiente, têm alguma utilidade. O resto é futilidade, é falar por falar.E Gaiarsa continua: “sempre estaremos ligados a fofocas, ou como vítimas ou como agentes.” E uma coisa é certa, quem não quiser ser vítima de fofoca, o melhor é não fofocar. Ou nas palavras de Sêneca: "Se queres que outrem guarde segredo, guarda-o tu primeiro."

Há os muito fofoqueiros e os fofoqueiros circunstanciais. Há os que usam a fofoca como maledicência, prejudicando e atingindo as pessoas; e há os que se divertem com fofocas inocentes. Mas uma coisa é real: todos fazem fofoca, é da natureza humana.

Presente ao longo de toda a História, tal ato é freqüentemente ligado à imagem das mulheres. Porém, engana-se quem pensa que fofoca é coisa de mulher: ambos fofocam. Pode até variar de foco ou de intenção, mas ninguém se escapa. O Centro de pesquisas de Londres, a Social Issues Research Centre, publicou que estatisticamente os homens são mais fofoqueiros. O que muda, entre a fofoca masculina e femina, é o teor da conversa: geralmente os homens fofocam sobre o ambiente de trabalho, gafes de colegas e principalmente sobre mulheres. Também vale ressaltar as razões que levam a fofoca: as mulheres, em geral, é uma maneira de passar o tempo enquanto para os homens pode servir, além de pura informação, como meio de auto-afirmação perante o resto dos amigos e colegas (quando este, por exemplo, gaba-se de ter saido com uma bela mulher).

Você consegue guardar segredo?

O educador e escritor Eugênio Mussak diz: “Uma fofoca é como o vento. Passa, mas vai deixar alguma conseqüência. Se for apenas um ventinho, a conseqüência nem será sentida, mas se for um vendaval, pode deixar um rastro de destruição.”

Segundo a professora de meditação Sally Kempton, uma maneira de saber se está no reino da fofoca ruim ou é compulsivo é pelo sabor que deixa para trás. E ela complementa: o bom fofoqueiro deixa um sabor amigável, não ficará com sentimentos de inadequação, raiva ou inveja. Além disso, é preciso prestar atenção o quão profundamente as palavras de outras pessoas podem distorcer nossas opiniões e até nossos sentimentos em relação ao outro. E quando falamos dos outros, fica até difícil para os outros confiarem em nós. Como diz um provérbio espanhol: “Aquele que fofoca com você irá fofocar sobre você também”.

Porém a fofoca nem sempre tem uma conotação ruim ou destrutiva. E em algumas situações temos a responsabilidade de dizer o que sabemos sobre a outra pessoa. Conversar com um amigo sobre o que sentimos por outra pessoa pode ser catártico, uma das razões pela qual precisamos de amigos é ter alguém para nos ouvir...
Por outro lado, falar dos outros também pode ser uma forma de evitar olhar para algo difícil em si mesmo. Tem um ditado que diz: “Quando Pedro fala de João, sabe-se muito mais sobre Pedro do que sobre João”.

O primeiro passo para evitar falar sobre as outras pessoas é observar a própria tendência à fofoca, para depois controlá-la. Quando falamos de alguém, e principalmente quando falamos mal de alguém, criamos uma aura de negatividade e geramos uma energia que pode contaminar todo o ambiente. É só observar como você se sente quando está falando de alguém. É como se tivesse perdendo tempo e energia. Isto sem contar que quando se fala mal de uma pessoa é possível que se sinta culpado ao encontrá-la.

Krishnamurti em seu livro Aos pés do Mestre nos instrui: “Deves resguardar-te, também, de alguns pequenos desejos que são comuns na vida diária. Nunca deixes brilhar ou parecer inteligente; não tenhas desejo de falar. É bom falar pouco; melhor ainda é nada dizer, a menos que tenha plena certeza de que o que desejas dizer é verdadeiro, amável e útil. Antes de falar, pensa cuidadosamente se o que vais dizer tem essas três qualidades; se assim não for, não o digas. Muitas das conversações ordinárias são desnecessárias e insensatas; quando descem à maledicência tornam-se perversas. Assim, acostuma-te antes a ouvir do que a falar; não dês opiniões a menos que te sejam diretamente solicitadas. Um enunciado das qualificações é assim dado: saber, ousar, querer e calar, e a última das quatro é a mais difícil de todas.”

Um dos fenômenos sociais mais populares há séculos, a fofoca já interferiu nos rumos da história.


Escultura retratando duas senhoras fofocando na parte velha da cidade de Sindelfingen, na Alemanha. Historicamente, a fofoca está ligada à imagem das mulheres e das pequenas cidades, como é o caso de Sindelfingen.






O controle das palavras

Segundo Sally, devemos considerar que um dos maiores frutos da nossa prática é permanecer em silêncio. Mira Alfassa, A Mãe (1878 – 1973) nos ensina: “A menos que você seja responsável por certas pessoas, seja como guardião, instrutor ou chefe de serviço, você não tem nada a ver com o que elas fazem ou não fazem, e é preciso abster-se de falar deles, de dar sua opinião sobre eles e sobre o que fazem, ou mesmo de repetir o que os outros podem pensar e dizer deles.”
E ela vai ainda mais longe quando diz: “em todos os casos, e de uma maneira geral, quanto menos se fala dos outros, mesmo se for para elogiá-los, melhor. Se já é tão difícil saber exatamente o que acontece em si mesmo, como saber, então, com certeza, o que acontece nos outros? Abstenha-se, portanto, totalmente de pronunciar sobre uma pessoa um desses julgamentos definitivos que só podem ser uma tolice, se não uma maldade. Por isso, aconselho todos a ficarem em paz e a absterem-se de todo julgamento. Isso é o mais seguro.”

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