Arte, Cultura e Filosofia

“Não acredite em algo simplesmente porque ouviu. Não acredite em algo simplesmente porque todos falam a respeito. Não acredite em algo simplesmente porque está escrito em seus livros religiosos. Não acredite em algo só porque seus professores e mestres dizem que é verdade. Não acredite em tradições só porque foram passadas de geração em geração. Mas depois de muita análise e observação, se você vê que algo concorda com a razão, e que conduz ao bem e benefício de todos, aceite-o e viva-o.” (Sidarta Gautama, o Buda)

A mensagem é sempre examinar e ver por si mesmo. Quando você vir por si mesmo o que é verdadeiro — e esse é realmente o único modo pelo qual você pode conhecer genuinamente qualquer coisa — quando isso acontecer, aceite—o. Até aí, apenas deixe de lado o julgamento e a crítica.


"Se um cego guiar outro cego, cairão ambos no barranco."

domingo, 13 de fevereiro de 2011

CISNE NEGRO

no palco da vida...


“ Uma garota virginal, pura e meiga, presa no corpo de um cisne. Ela deseja liberdade, mas apenas um amor verdadeiro pode quebrar o feitiço. Seu desejo quase se concretiza, na forma de um príncipe. Mas antes que ele declare seu amor, a luxuriosa gêmea, O Cisne Negro, o engana e o seduz. Devastado, O Cisne Branco sobe em um penhasco, e se mata. E na morte, encontra a liberdade. ”

Esse é o enredo do filme O Cisne Negro, baseado no balé dramático O Lago dos Cisnes criado por Tchaikovsky. Em O Cisne Negro podemos ver a atuação de Natalie Portman como Nina Sayers, uma bailarina movida pela busca da perfeição e o desejo de superação. Ela anseia desesperadamente tornar-se a principal bailarina da companhia de Thomas Leroy (Vincent Cassel), e interpretar as irmãs gêmeas: Cisne Negro (Odile) e Cisne Branco (Odete). Por compartilhar das mesmas características que Odete – pureza, doçura e inocência – Nina não encontra dificuldades em interpretá-la, o problema é viver a ousada Odile, o oposto da personagem de Portman.

Quando assisti no cinema o filme Cisne Negro, imediatamente conectei o filme com o livro que eu estava lendo O Efeito Sombra. Isto porque em o Cisne Negro, Nina (Natalie Portman) faz o papel de uma bailarina que precisa incorporar não somente o Cisne Branco (no qual ela é perfeita para o papel), mas também precisa incorporar o Cisne Negro. Para isto, Nina precisa explorar um lado que andava reprimido, esquecido, e desacordado. Em outras palavras, precisava explorar a sua sombra, e ficar cara a cara com ela.
Já Lily, uma outra bailarina da companhia, é perfeita para o papel do Cisne Negro, pois mesmo não tendo os movimentos tão perfeitos, emociona, deixa-se levar, deixa fluir.
É como se Nina, para conseguir o papel precisasse estar pronta para embarcar nessa jornada e reivindicar seu eu completo, seu self bom e seu irmão gêmeo "perverso".
Mas é importante ressaltar que o Cisne Negro não tem conotação negativa. Muito pelo contrário: ele representa o nosso lado em que deixamos fluir a nossa essência, nossos sentimentos, emoções e sensações mais primitivas. Encaramos de frente a nossa sombra e assumimos nossa real identidade, sem máscaras, sem medo. Como diz Debby Ford no livro O Efeito Sombra: "é irônico que, para encontrar a coragem de levar uma vida autêntica, você terá que entrar nos cantos escuros de seu self mais forjado."

Saí do cinema pensando que assim como Nina, preciso aprender a vivenciar mais o meu lado Cisne Negro. Lembrei muito das palavras de Debby no livro: "A busca pela vida perfeita, o papel perfeito, a personalidade perfeita, sempre nos deixará frustados - mesmo obtendo o que queremos - pela simples razão de sermos mais que um punhado de qualidades que se encaixam caprichosamente ao ideal do ego. No processo de tentar expressar apenas esses aspectos que acreditamos garantir a aceitação pelos outros, abafamos alguns de nossos traços mais valiosos e interessantes, e nos sentenciamos a uma vida de repetição do mesmo drama, como o mesmo roteiro batido."
A autora diz que ao vedarmos a escuridão (nosso Cisne Negro?), recemos a espreita dentro de nós, porque tememos a destruição que isso pode nos causar (como no caso de Nina), além de abafarmos outros aspectos que anseiam a expressão, como a força, o sucesso, o nosso lado sexy, engraçado, brilhante e poderoso.
"Um dos aspectos mais empolgantes de ser humano é o fato de haver literalmente centenas de partes inspiradoras, úteis e poderosas que estão adormecidas, ansiando para sair da sombra e ser integradas ao todo do self. Há uma imensa variedade de sentimentos maravilhosos esperando por uma oportunidade de se deslocarem no corpo, trazendo novas sensações e novos níveis de felicidade, alegria e prazer. Realmente não podemos desfrutar da vastidão de quem somos, porque esquecemos quem somos além das fronteiras das barreiras restritivas internas que impusemos ao nosso mundo emocional.
Para voltarmos a nos inspirar em qualquer área da vida, só precisamos olhar e ver qual dos aspectos ou personagens sombrios saíram do ângulo da visão, encontrar maneiras seguras e apropriadas para que eles possam se expressar e convidá-los de volta ao palco."

E para terminar: "Precisamos nos desafiar (assim como fez Nina, porém sem ir ao extremo) e aceitar todas as facetas de nossa humanidade; de outro modo, os personagens que foram expulsos do palco, agora reprimidos, se tornarão os orquestradores silenciosos de nossa vida secreta."

E quem assistiu à cena do filme em que a bailarina finalmente se apresenta e encarna o Cisne Negro, sabe da liberdade que estou falando.

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