Arte, Cultura e Filosofia

“Não acredite em algo simplesmente porque ouviu. Não acredite em algo simplesmente porque todos falam a respeito. Não acredite em algo simplesmente porque está escrito em seus livros religiosos. Não acredite em algo só porque seus professores e mestres dizem que é verdade. Não acredite em tradições só porque foram passadas de geração em geração. Mas depois de muita análise e observação, se você vê que algo concorda com a razão, e que conduz ao bem e benefício de todos, aceite-o e viva-o.” (Sidarta Gautama, o Buda)

A mensagem é sempre examinar e ver por si mesmo. Quando você vir por si mesmo o que é verdadeiro — e esse é realmente o único modo pelo qual você pode conhecer genuinamente qualquer coisa — quando isso acontecer, aceite—o. Até aí, apenas deixe de lado o julgamento e a crítica.


"Se um cego guiar outro cego, cairão ambos no barranco."

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Você já se sentiu apaixonado? Então este texto é para você!


Há muito o que dizer sobre apaixonar-se. A maioria de nós provavelmente pode lembrar-se da primeira vez em que se apaixonou, e de quantas emoções inesperadas e fortes então ocorreram e encontraram vazão. Ter a experiência de apaixonar-se equivale a estar aberto aos assuntos do coração de maneira maravilhosa. Pode ser o prelúdio de uma expansão valiosa de personalidade e da vida emocional. É também uma experiência importante porque aproxima os sexos e inicia um relacionamento. Quanto ao saber se isto leva a conseqüências felizes ou infelizes, a vida se mantém em movimento deste modo. Talvez, principalmente com pessoas jovens, apaixonar-se é uma experiência natural e bela, e uma vida que jamais conheceu tal experiência sem dúvida alguma fica empobrecida.
O fato, entretanto é que relacionamentos exclusivamente baseados no estado de paixão nunca duram. Apaixonar-se é próprio dos deuses, não para os seres humanos, e quando seres humanos tentam reclamar para si a prerrogativa dos deuses e viver num estado de "paixão" (que é diferente do amor recíproco) surge um movimento do inconsciente para interrompê-lo. O relacionamento entre pessoas apaixonadas simplesmente não resiste, quando submetido à prova ou teste da realidade de um relaciomento humano verdadeiro; ele só consegue sobreviver num mundo de fantasia, em que o relacionamento não é testado no desgaste cotidiano da vida real. Quando vivem juntos nas condições humanas do dia-a-dia, "João e Maria" logo se tornam reais um para o outro como seres humanos imperfeitos e atuais. Quanto mais reais se vão tornando um para o outro como pessoas, menos possibilidade há de as imagens mágicas e fascinantes provenientes do inconsciente permanecerem projetadas sobre eles. Bem depressa o estado de apaixonados se esvai, e, pior ainda, a mesma mulher e o mesmo homem, que certa vez se apaixonaram um pelo outro, podem agora começar a brigar.
A incapacidade do estado de apaixonados suportar o desgaste da vida humana diária é reconhecido por todos os grandes poetas. Foi por isso que o relacionamento de Romeu e Julieta teve de terminar com a morte. Seria inadmissível para Shakespeare ter de concluir a sua grande história de amor mandando seu casal de amantes até uma loja de departamento para comprar panelas para a cozinha deles. Num instante eles teriam brigado por causa da frigideira que iriam escolher, do preço que iria custar, e toda a bela história de amor de repente estaria evaporada.
Grandes poetas deixam tais histórias de amor entregues a quem elas pertecem: nas mãos dos deuses. Ora, se um casal humano insiste em viver da fantasia de amor, eles podem fazer despencar tudo em cima de suas cabeças, arruinando-as. É o que Lancelot e Guinevere fizeram em Camelot. Depois de se haverem apaixonado, insistiram em tentar transformar seu relacionamento de amor num problema pessoal, procurando encontrar suas vidas neste plano, acontecesse o que acontecesse. Na medida em que eles tentavam identificar-se um com o outro e possuir-se reciprocamente, satisfazendo as suas fantasias de amor com um relacionamento sexual, eles provocaram em torno de si a ruína de Camelot. A grande mesa redonda, simbolizando a plenitude, ficou despedaçada e a história de amor de ambos tornou-se a trágica história da destruição de um lindo castelo e do fracasso, não só deles, mas também do nobre rei Arthur e de seus numerosos e bravos cavaleiros.
O fato de o estado de apaixonados não poder suportar ao desgaste da vida diária não corresponde ao que desejamos ouvir, pelo menos não nos dias de hoje, que descreve o estar apaixonado com a meta do relacionamento entre os sexos, e constantemente expõe isto aos nossos olhos nos anúncios de televisão. Os seres humanos não são muito perspicazes quando se trata de substituir a realidade pelas seduções da imaginação e da fantasia. Preferimos continuar procurando o homem ou a mulher perfeitos, no caso o homem ou a mulher que corresponderá à imagem ideal e à garantia de que com ele ou ela nós nos sentiremos felizes e realizados, ainda que isto leve a um desapontamento ou decepção depois do outro, e vá acrescentando cada vez mais amargura ao nosso cálice da vida.
Agora precisaríamos deixar bem claro que, segundo o grau em que um relacionamento se baseia em projeção, o elemento do amor humano pode estar faltando. Quando nos apaixonamos por alguém que não conhecemos como pessoa, mas por quem somos atraídos porque reflete para nós a imagem de deus ou deusa em nossas almas, é, num certo sentido, apaixonarmo-nos por nós mesmos, apaixonar-se cada um por si mesmo, e não pela outra pessoa. Não obstante a aparente beleza das fantasias de amor que costumamos ter nesse estado de apaixonados, podemos, de fato, encontrar-nos num estdo de espírito profundamente egoísta. O amor real começa somente quando uma pessoa chega a conhecer a outra, para quem ele ou ela é realmente um ser humano, e quando começa a amar esse ser humano e a preocupar-se com ele.
Nenhum ser humano pode concorrer com os deuses e deusas em todo o seu brilho e glória; e antes de mais nada, ver a pessoa que amamos como ela ou ele é, e não em termos de projeções, pode parecer desinteressante e decepcionante, porque os seres humanos são, no seu todo, pessoas comuns. Por causa disto, muitos preferem estar passando de uma pessoa para outra, sempre procurando o relacionamento máximo, melhor possível, deixando sempre o relacionamento que está mantendo quando as projeções se desgastam e a paixão termina. É evidente que, com raízes tão pouco profundas, não pode desenvolver-se nenhum amor real e permanente. Ser capaz de um amor real significa amadurecer, estimulando expectativas realistas em relação às outras pessoas. Significa aceitar a responsabilidade por nossa própria felicidade ou infelicidade, sem esperar que a outra pessoa nos faça felizes e sem censurá-la como se fosse responsável pelas nossas más disposições e frustrações. Naturalmente, isso torna o relacionamento real um problema difícil, em favor do qual devemos trabalhar; mas felizmente, as compensações existem, porque somente através deste caminho nossa capacidade de amar amadurece.
A pergunta que fica é: Que acontece então? Será que esse relacionamento se transforma num veículo para o desenvolvimento da consciência, ou será que o introduzimos em nossa natureza infantil e vamos continuando a viver, insistindo em que algum dia encontraremos um relacionamento que nos ofereça perfeita felicidade ou realização plena?

(Quem quiser continuar lendo ou se aprofundar mais sobre o assunto, leia o livro "Os parceiros Invisíveis - o masculino e o feminino dentro de cada um de nós", de John Al Sanford. Talvez você não encontre em qualquer livraria, mas pode pedir pelo site www.estantevirtual.com.br)